Para onde vai a nossa República?
As Ideologias que proliferaram e foram testadas na Europa a partir da Revolução Industrial iniciada no século XVIII acompanharam a expansão do capitalismo pelo mundo ao longo do século XIX ; passaram a ser vivenciadas mais intensamente no século XX que veio a ser consagrado por sociólogos e cientistas políticos como “ o século das Ideologias”.
Uma clássica definição de ideologia nos diz que “Ideologia é um sistema de ideias, valores, interesses e sentimentos voltados para a ação e a mobilização dos indivíduos, com vistas a preservar, formar ou revolucionar determinada ordem social”.
Da análise da definição clássica depreende-se que ideologia não é apenas um conjunto de ideias, mas um conjunto lógico com o propósito de motivar a ação e a mobilização imediata, para implementação política. Portanto, na atividade política uma ideologia caracteriza uma visão simplificada do mundo, e apresenta uma redução da complexidade dos problemas existentes, prometendo soluções plausíveis.
A industrialização do Brasil, por conta da submissão colonial, sofreu um retardo de mais ou menos um século em relação à Europa e Estados Unidos da América; em consequência, quando começamos a conviver com os problemas sociais decorrentes do capitalismo liberal assinalados por Marx, as Ideologias testadas na Europa já experimentavam um certo cansaço, prenunciando-se “a morte das ideologias” para a década de 50, o que não aconteceu.
Naquela 1ª. Metade do século XX, países subdesenvolvidos como o Brasil estavam diante de dois componentes perigosamente explosivos: ESCASSEZ e GRANDES DEMANDAS, campo fértil para a pregação ideológica. A partir do “Trabalhismo” importado da Inglaterra confrontado com as posturas liberais da classe dominante, atingimos o clímax da pregação revolucionária marxista; a promulgação da Lei Trabalhista (CLT) no Governo de Getúlio Vargas foi o primeiro passo positivo no sentido de conciliar as relações Capital X Trabalho. Já nos anos 60, a bipolarização do mundo entre os países capitalistas e bloco socialista suscitou a pregação ideológica na América Latina incentivando aventuras que exigiram contramedidas de força, a bem da manutenção da ordem social e do esvaziamento de pretensa alteração nos eixos de poder na ordem mundial.
Vitoriosos nos embates pós 64, os governos que se sucederam não aproveitaram o momento histórico para levar às massas trabalhadoras os beneficio do crescimento econômico, deixando aberta uma janela para o recrudescimento ideológico. Em consequência, já passado mais de meio século, a herança das matrizes ideológicas não nos abandonaram; ao contrário, revigoraram-se; não mais com a pregação revolucionária comunista para tomada do poder, mas com o engajamento de governos sucessivos na “prática “evolucionária” do socialismo inspirado no ” revisionismo” da doutrina marxista leninista, sob a visão gramscista adotado pelo Foro de São Paulo para a América Latina.
Acreditamos que os Partidos Políticos, ao apresentarem as suas plataformas, por uma questão lógica, estariam de fato anunciando uma ideologia partidária (ou deveriam estar). Na prática, as decisões políticas seriam sempre tomadas em função dos componentes ideológicos, também presentes na própria moldura democrática. Se isso de fato ocorresse teríamos a necessidade de conhecermos bem os principais “formatos ideológicos” já testados, identificando-os pelos seus núcleos: Filosófico, Político e Econômico, para finalmente compararmos e fazermos uma opção de apoio; contudo, a massa eleitoral desinformada não parece estar apta a perceber essas nuances e vai fazendo as suas opções nas urnas, motivadas pelos efeitos palpáveis do assistencialismo.
Atualmente, quando se analisam as plataformas políticas dos partidos, já não é fácil distinguir claramente aqueles núcleos componentes das ideologias tradicionais, salvo nos partidos de visão totalitária. A Democracia Liberal, o Conservadorismo, a Social Democracia ou Democracia Socialista e mesmo a Democracia Cristã utilizam os mesmos discursos focados em promessas de pleno atendimento das demandas sociais, visando exclusivamente a conquista do voto e acesso a fatias de poder. Por outro lado, os governos de coalizão promovem uma simbiose das matrizes ideológicas, minimizando o papel da oposição; sob falsos consensos, vão levando avante as mudanças de valores através de Programas educacionais polêmicos à revelia dos cidadãos e a permanente intervenção nas questões sociais, que seriam apenas episódicas no formato de uma moldura democrática consolidada.
Não escapa à nossa observação o fato de que uma extensa malha funcional ideologizada preenche os espaços ministeriais. Também é evidente que as Organizações Não Governamentais (ONGs), que no passado cumpriam um papel representativo dos interesses minoritários em contraposição ao consenso do Estado, foram por este cooptadas e transformadas em elementos celulares da execução das políticas sociais engendradas no centro de poder. Passaram a fazer parte do aparelhamento estatal, comungando do mesmo pensamento do poder constituído: “ para os amigos tudo, até a imoralidade”.
Estamos diante de uma configuração de poder capaz de promover mobilização e conquista de credibilidade crescente junto à população já anestesiada pelo assistencialismo exacerbado, a caminho de aplaudir o “culto à personalidade”, uma estratégia totalitária que deu certo na última campanha presidencial, enquanto a massa eleitoral ignorava e continua a ignorar a discussão ideológica e a mentira institucionalizada.
Enquanto na visão democrática a ideia de Poder está ligada à sua própria limitação, percebem-se ensaios no conjunto das ações governamentais que sinalizam a existência de um projeto de expansão de poder, característica de uma visão totalitária, apesar do discurso democrático. Não esqueçamos as recentes tentativas, felizmente frustradas, de intervenção na liberdade de imprensa à guisa do socialismo cubano e bolivariano que considera a imprensa de oposição como “imprensa contra revolucionária”.
A pregação anticapitalista e estatização dos meios de produção vem sendo substituída pela associação do Estado à Elite Empresarial com troca de favores e partilha de resultados em favor de uma elite de poder dominante que ameaça a independência dos três poderes institucionais.
Com altos salários e benesses na cúpula dos três Poderes, há um esforço para diminuir as desigualdades na renda da base assalariada e outro esforço empurrando para baixo a classe média tradicional ), tudo em nome da promoção da denominada “ nova classe média” – uma classe média mais pobre e mais numerosa que a antiga.
A Presidenta deposta usava e abusava das expressões “Estado Forte” e “precisamos avançar cada vez mais”. As perguntas que fazemos são: – Estávamos avançando para onde? Estamos diante da “guerra de movimento”, de luta política nas condições históricas, segundo a visão de Gramsci, na qual o Estado seria tudo, com a permissividade de “uma gelatinosa sociedade civil” ? – Estamos a caminho do centralismo democrático Leninista não Marxista? – O atual embrulho de partidos socialista tem algum compromisso com a alternância de poder? – Ou essa simbiose ideológica da coalizão, associada ao capital ,“avançará” até que se alcance uma hegemonia partidária no “Estado Forte” ?
Outra questão: O atual sistema representativo, com políticos distanciados dos interesse da sociedade, terá condições de sobreviver? Que alternativa nos resta?
Ainda acreditaremos na busca do bem comum ou o atual governo implantará um Programa de pobreza para todos (menos para eles da cúpula privilegiada)? Finalmente, para onde vai a nossa República?
Ótimo texto. Parabéns, Geraldo.
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