Quando se passa dos oitenta,
O tempo passa depressa;
E já não sei que vida é essa,
E que sonhos ela acalenta.
O idoso vive um presente,
Aonde o futuro chegou;
Do passado o que restou,
Só há registro em sua mente.
O destino que o trouxe aqui
Para lembrar sem ser lembrado;
Não pode voltar pro passado,
Mas o passado vem a si.
Alguns sobrevivem isolados,
Sós no meio da multidão;
Já não reconhecem quem são,
Malqueridos e malcuidados.
Nova vida em novo escopo,
Caminhada sem guarida;
É mais remédio que comida,
O que sustenta seu corpo.
Prazeres? Já não são tantos;
Curiosidades são bem menos;
Só seus sonos são serenos;
E sonhos são seus encantos.
A finitude acontece assim:
Num vislumbre de mau agouro
A vida que é o meu tesouro
Irá para o futuro sem mim.