Memória da Pesca Desportiva Nordestina

Memória da Pesca Desportiva Nordestina

Documentar a história do desenvolvimento da Pesca Amadora Desportiva na Região Nordeste é uma imperiosa necessidade, para que sejam compreendidas as dificuldades de nivelamento competitivo no Brasil; é também uma forma de honrar os precursores que lutaram para colocar o Nordeste no mapa das competições nacionais, além de incentivo às novas gerações a preservarem esse legado.

PARAÍBA

Até o ano de 1980, o que se via ao longo da Costa paraibana, em termos de Pesca Amadora era uma atividade puramente de lazer, sem regras, praticada em família e entre amigos nos fins de semanas, nos chamados “piqueniques”.

Na Pesca de Arremesso, os equipamentos eram rudimentares: Linha de mão enroladas em garrafas ou latas de conserva, caniços de bambu, linhas de nylon grossas (40mm,50mm,60mm), molinete tipo único marca PAOLI, anzóis grandes e iscas de todo tipo. Os praticantes não possuíam qualquer conhecimento técnico aplicável; era pura aventura e apelo à sorte. Também não se falava das variantes marítimas ou de hábitos das espécies marinhas.

A Pesca de Arrasto era praticada por um bom número de adultos com redes e “mangotes de pesca” de malha miúda que pegava qualquer coisa, até mesmo alevinos, que eram abandonados na areia, o que tornava a prática predatória.

A Pesca Embarcada e a Caça Submarina eram raras e restritas a poucas pessoas.

A pesca em água doce não era praticada no litoral por falta de rios saudáveis ou mananciais como lagoas e açudes. Essa prática era mais notada em algumas cidades do interior e zonas rurais.

PESCA DE ARREMESSO – O INÍCIO

Naquela época já eram noticiadas as competições das chamadas “Gincanas de Pesca” nos Estados de Alagoas e Sergipe (Praias de Penedo e Coruripe) que atraiam pequenos grupos à cata de premiações significativas. Ainda assim, os equipamentos não eram diferentes.

Em 1981, um grupo de amigos em João Pessoa se deu conta que na Paraíba não havia um clube que representasse oficialmente o Estado, a exemplo do que encontravam naquelas gincanas; decidiram então fundar a Associação de Pesca Amadora da Paraíba (APAP), o que ocorreu em 02 de setembro de 1981, sendo seus fundadores foram:

Sebastião de Lima Paiva, Antônio Rebouças Sampaio, André Gil Fonseca de Oliveira, José Humberto Ferreira, Petrônio Nóbrega do Amaral, José Alves filho, José Gonçalves de Andrade,  Pedro Dieb, Francisco Dionísio da Silva, José Quirino de Lima, Paulo Marcelino dos Santos, Saulo Bezerra C da Cunha, Agostinho Lima Lobo, Dagoberto Vitor de Miranda Henriques, João Alberto de Vasconcelos, Waldemar Aranha Sobrinho (1° Presidente eleito), Severino S dos Santos, Francisco Fernandes de Carvalho, Paulo Ferreira da Silva.

Mesmo com a fundação da APAP as formas de pesca e os equipamentos não mudaram, o que se atribui à falta de intercâmbio com as Regiões Sudeste e Sul onde havia um significativo avanço.

Em Recife/PE, o representante da Paoli e Tramontina – RICARDO ELIHIMAS – Fundou o “Clube da Vara” e começou a promover competições abertas; a proximidade do Estado deu oportunidade de concorrência da APAP, iniciando-se um clima de competitividade baseada em Regras Definidas que foram adotadas na Paraíba; e logo foram efetivadas as competições internas anuais com pontuação acumulada e premiações.

Através de RICARDO ELIHIMAS começaram a chegar os caniços de Fibra de Vidro, Grafite e Carbono, o que recuperaria um atraso de mais de 50 anos em relação às Regiões Sul/Sudeste e outros países.

Convidados a uma competição em Natal/RN pela ASSEN E PAMPANO em 1985(?), os pescadores da APAP se defrontaram com outra realidade: O material leve (caniços, molinetes, linhas e anzóis). Introduziu-se a pesca de pequenos espécimes com pontuação que valorizava a quantidade (2 pontos por peça e 1 ponto por grama); era consagrada a denominação BARRA LEVE diferenciada das regras da pesca de maiores espécimes pontuados apenas pelo peso, cognominada de BARRA PESADA.

Foi difícil convencer a APAP a aderir à BARRA LEVE. Naquele ano, eu estava bem financeiramente e resolvi entrar para valer para introduzir a Paraíba no mapa da pesca regional. Financiei a vinda de três grandes pescadores de Recife e Olinda: RICARDO KAVATA, GIORGIO e “MATUTO”; montei um painel de anzóis AKITA de n° 1 a 7 e outro com uma variedade de chumbadas. Foi um encontro de dois dias com muitas explicações e algumas demonstrações. Isso provocou uma divisão pacífica da APAP em adeptos da BARRA LEVE e da BARRA PESADA. Os calendários de provas internas e as premiações eram separados. Isso durou muito tempo.

Os primeiros Campeonatos NORTE/NORDESTE foram feitos com as regras BARRA LEVE. Aprendemos muito com MILTON CRUZ da ASSEN/RN, ANTÔNIO LIMA e Dr. OLIMPIO em Fortaleza/CE com quem mantive muitos contatos.Aqui, os baluartes dessa luta foram: Dr. DELFIM NETO (médico), PEDRO DIEB (arquiteto), WLADMIR MENEZES, PAULO ROHR, GILMÁRIO MARQUES, HUMBERTO GRISI e KARIN DE MIRANDA HENRIQUES (na categoria feminina) e eu que me mantive ativo entre 1981 e 2016.

NA CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA

Em 1986 a Confederação Brasileira de Pesca e Desportos Subaquáticos (CBPDS) promoveu um Campeonato Nacional em Ilhéus/BA, somente para os clubes afiliados. Graças ao bom relacionamento que tínhamos com o Rio Grande do Norte conseguimos uma vinculação à Federação Norte- riograndense e levamos uma delegação completa com as Categorias MASCULINA (18 a 50 anos), MASTER (50 a 65 anos, SÊNIOR (acima de 65 anos) e FEMININA.

Foi a primeira oportunidade de contato com os atletas das Regiões SUL/SUDESTE e início de um verdadeiro aprendizado técnico. Conheci um membro da Equipe Oficial da CBPDS que participara do Mundial que me confidenciou: – “Geraldo, antes de me classificar para esta equipe, eu passei 2 anos indo às competições só para observar e fazer anotações”; puxou um caderno e me mostrou as tabulações que fizera; ele usava Barômetro, Anemômetro e Termômetro (uma mini estação meteorológica); e me deu uma verdadeira aula de ictiologia. Impressionei-me com as variáveis consideradas para localização e captura de peixes. Depois ele concluiu: – “Se você passar mais de 15 minutos para capturar seu primeiro peixe pode ficar certo de que perdeu a competição”.

O intercâmbio Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Ceará foi fundamental para evoluirmos e sermos considerados “Atletas de Alto Rendimento”.

Nesse contexto, como é natural, surgiram novas lideranças que propiciaram a criação de outros clubes locais como: BEIRA MAR, G-8, CAPESC.Em Pernambuco, onde eu tinha trânsito constante, além do CLUBE DA VARA, foram criados: ATIRE, CLUPERE e ADAP (em Recife); AMANTES DO MAR, JANAINA e COPA (em Olinda).

“O QUE DÁ PRA RIR DÁ PRA CHORAR”

A Confederação Brasileira desenvolveu um conjunto de Normas e Diretrizes unificando os procedimentos e disciplina nas competições de tal modo que quem se deslocasse de uma Região a outra para competir não teria nenhuma dificuldade em adaptar-se; isso trouxe grande benefício comum.

Por outro lado, a Confederação privilegiava os clubes das Regiões SUL/SUDESTE nas seletivas para representação mundial, deixando o Nordeste de fora. Com uma maioria de representação as eleições eram manipuladas perpetuando o mandato do Presidente; as sucessões adquiriram um caráter de Dinastia.

Com poder absoluto, o Presidente da CPBDS, EDUARDO PAIM BRACONI, extrapolando a sua competência passou a proibir os Atletas e Clubes confederados de participarem de competições com outras entidades promotoras que não fossem filiadas à CBPDS. Isso não só causou um desagrado coletivo como desencadeou uma fissura na união dos clubes regionais e um movimento contra a CBPDS e evasões interclubes.

Já em 1998 surgiu o primeiro movimento de intenção de se fundar uma Liga Nordestina e ruptura com a Confederação. Uma decisão foi tomada após uma competição regional em Natal/RN com a presença de 4 Estados: PARAÍBA, PERNAMBUCO, RIO GRANDE DO NORTE E CEARÁ.Entretanto, ao se considerar que as Organizações Desportiva Internacionais só acolhiam competidores que fossem vinculados à CBPDS como única representante do País, o projeto foi abandonado. Havia atletas de ponta que almejavam conquistar vaga na Seleção Brasileira.

A ENTRADA DE ALAGOAS 

Alagoas é famosa por suas Gincanas tradicionais, representada pelo CLUPEAL. O seu potencial de adeptos é imensurável; mas permaneceu muito tempo fora do Ranking Brasileiro devido às abusivas exigências do Presidente da CBPDS. Mas o nosso objetivo era fechar um circuito nordestino do Ceará até Bahia; faltavam Alagoas e Sergipe.

Em 2013 fiz uma campanha para levar uma equipe 3 atletas de Maceió, vinculados à APAP, ao II Campeonato Brasileiro de Pesca por Seleções realizado em Fortaleza/CE. O objetivo era despertar o interesse e fundar um clube confederado. Fui a Maceió com o meu irmão CARLOS ANTÔNIO para fazer um treinamento e promover adequação às regras. Deu certo. No retorno LUCIANO TELLES, IRANI TELLES e SILVANA QUARESMA fundaram o “TAINHA” Clube de Pesca e Desportos Subaquáticos.

SERGIPE

Em 2015/2016, uma intermediação com a Federação da Bahia resultou na criação do Clube de Pesca de Sergipe (CLUPESE), ao mesmo tempo em que eu, na condição de Árbitro Regional e representante junto à CBPDS, enquanto “apagava incêndios” para evitar deserções, dediquei-me a influenciar um clube sergipano para fechar o circuito Nordeste.


A partir de 2012 boa parte dos atletas da Região Sul/Sudeste, desapontados com a CBPDS, provocaram um “racha” e ciaram a NOVA PESCA BRASIL; tentaram envolver o Nordeste mas resistimos. Em Natal/RN a ASSEN também rompeu com a CBPDS, desconstituiu o Departamento de Pesca e fundou o NATAL CLUBE DE PESCA E LANÇAMENTO (NCPL) vinculado à NOVA PESCA BRASIL.

Desequilibrada no Sul/Sudeste, a CBPDS voltou-se para o Nordeste – sua tábua d salvação. Mas continuou arrogante e autoritário. Realizou um Campeonato Brasileiro em João Pessoa/PB em 2015 e outro em 2016 em Cabo Santo Agostinho/PE. As arbitrariedades cometidas nestas duas provas revoltaram os participantes que começaram a incentivar o desligamento dos clubes e a formação de uma Liga Regional.


Em 2016, no Campeonato Brasileiro realizado no Cabo Santo Gostinho/PE, participei e conquistei o 3° Lugar pela Categoria SÊNIOR. Deixei de competir, por não suportar mais o esforço de fazer 1 arremesso a casa 3 minutos Durante 4 horas.

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